Tempo de Copa do Mundo é uma oportunidade para acompanhar futebol, mas também para conhecer outras culturas, costumes e culinárias. Professores dos cursos técnicos de Gastronomia e Nutrição e Dietética das Escolas Técnicas Estaduais (Etecs) falam sobre comidas e bebidas servidas nos países que enfrentam o Brasil na primeira fase do torneio: Sérvia, Suíça e Camarões.
Nesta quinta-feira (24), a seleção brasileira entra em campo contra a equipe da Sérvia, país localizado no Sudeste da Europa, na região conhecida como Bálcãs. Influenciada por países como Grécia e Turquia, a culinária local reúne sabores bem comuns do Mediterrâneo. “Eles têm em sua cozinha ingredientes como frutas, queijos, tomates, cebolas, pimentões”, conta Ariane Feltrin, professora das Etecs Alberto Santos Dumont, de Guarujá, e Dona Escolástica Rosa, de Santos. Ela explica que também é possível identificar aspectos da gastronomia alemã, traduzidos em ensopados, pães de massa do tipo strudel e chucrute, uma conserva de repolho.
Docente da Etec Professor Camargo Aranha, da Capital, Henrique Santos do Nascimento conta que, na Sérvia, as pessoas vão às pekaras, estabelecimentos que lembram padarias ou lanchonetes. Um dos pratos que se encontra nesses locais é a pljeskavića, uma espécie de hambúrguer artesanal feito com carnes de porco, vaca e cordeiro. O país também tem pratos elaborados com peixes de água doce.
Os sérvios bebem uma cachaça artesanal com quase 40% de teor alcoólico, a rakija, e consomem cervejas, algumas delas vendidas em garrafas plásticas de 1,5 ou 2 litros.
Qualidade nutricional
Com gastronomia um pouco mais popular entre os brasileiros, a Suíça é o adversário da seleção no dia 28. Os produtos mais conhecidos de lá são os queijos e chocolates. Segundo a professora Isabela Fonseca Pinheiro, que leciona nas Etecs Carlos de Campos e Profª DraªDoroti Quiomi Kanashiro Toyohara, existem mais de 500 tipos de queijos suíços. “Eu destacaria o Emmental, aquele com olhaduras, que nós chamamos de furos. Outro produto é o Gruyere, que tem sabor ainda mais forte.”
E como não lembrar do fondue suíço? “Por lá, eles servem o creme de queijo com carnes e pães, como aqui, mas o acompanhamento mais comum são as batatas-bolinha”, conta Nascimento, que já visitou o país. É possível encontrar também na Suíça influências da culinária alemã. “Eles consomem bastante salada de batatas com um filé de carne de porco empanado.”
Na sobremesa, frutas vermelhas, como amoras, framboesas e morangos ganham destaque no preparo de tortas, pudins, marinadas e geleias. “Os suíços prezam pela qualidade nutricional de seus produtos e, por isso, o consumo de açúcar e aditivos é bem controlado”, conta Isabela.
Fufu
O terceiro e último adversário do Brasil na chamada fase de grupos da Copa, no dia 2 de dezembro, é a seleção da República de Camarões, país da África Central. Ariane aponta semelhanças entre a culinária camaronesa e a brasileira. “Eles têm um prato chamado koki corn, feito com milho em grãos, fubá, espinafre e óleo, que lembra um cuscuz”, conta. Também consomem pratos à base de mandioca. “Um exemplo é o fufu de água, bolinho que acompanha ensopados.”
Aumentando a lista de coincidências alimentares com a nossa culinária, Nascimento cita o consumo frequente de banana como acompanhamento – servida grelhada, frita ou em bolinhos. Entre as bebidas, o professor destaca o matango, um vinho de palmeira feito a partir da seiva da planta, de alto teor alcoólico.
A professora Sheila Lima, da Etec Julio de Mesquita, de Santo André, na Região do ABC, cita um outro prato camaronês: o ndolé. “É uma receita que pode ser feita com carne ou peixe, muito apimentada e servida com amendoins”, explica. “Em Camarões também é possível comer pratos exóticos, como carne de crocodilo e porco-espinho.”
Sem álcool
Como o país que sedia a Copa do Mundo, o Catar, tem hábitos alimentares bastante distintos dos brasileiros, é interessante conhecer algumas peculiaridades. Valéria Bregantin, docente da Etec Santa Ifigênia, da Capital, destaca que, como eles não consomem bebidas alcoólicas, o foco das refeições acaba sendo exclusivamente a comida. “Eles têm aquela cultura de compartilhar a alimentação, que é servida em diversos potinhos, para ser repartida pelo grupo”, afirma. “Uma refeição pode durar horas.”
Os pratos da culinária catari têm influências mediterrâneas, com toques de frescor e muitos pescados. Sabores da Índia, Líbano e Irã também aparecem no uso de temperos, como pimenta síria e zaatar. “O prato nacional, o majboos, geralmente é feito com cordeiro ou frango cozidos lentamente com arroz, curry, cravo-da-índia, cominho e coentro”, explica Isabela.
Além das restrições às bebidas alcoólicas, que ficaram famosas após a família real do Catar decidir proibir a venda de cervejas no entorno dos estádios, a carne de porco também não é consumida pela população local.
Canolli
Para a professora Isabela, futebol e gastronomia andam juntos. “Para onde um time vai, ele leva a cultura de um grupo e a culinária faz parte dessa cultura”, afirma. Ela lembra também das comidas servidas nas portas dos estádios como exemplos dessa intersecção. “Temos os sanduíches de pernil, o cachorro-quente”, diz. “Na Capital, no bairro da Mooca, com grande influência italiana, são vendidos canolli nos dias de jogo do Juventus.”
Futebol e gastronomia são também duas paixões brasileiras. Temos orgulho das cinco estrelas da nossa camisa e dos nossos pratos: feijoada, moqueca, galinhada, diversidade de carnes e frutos do mar. Reunimos a família e os amigos para ver a seleção jogar e para compartilhar os prazeres da mesa. “Comer é socializar, celebrar”, diz Ariane. “Eu vejo a gastronomia permeando tudo.”
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