Mais de 1,4 mil árvores plantadas, ampliação do diálogo para criação de políticas públicas e novas metas. É com essas medidas que a Prefeitura de Guarujá pretende aprimorar a qualidade do ar em áreas portuárias do Distrito de Vicente de Carvalho, que foi monitorada entre 2019 e 2020 pelo projeto Atlas da Poluição Ambiental, desenvolvido pela Secretaria Municipal de Meio Ambiente (Semam). Os resultados foram anunciados na segunda-feira (25).
A pesquisa aponta que o maior índice de poluição por Cádmio (Cd), um dos Elementos Relacionados ao Tráfego (ERTs), encontra-se, sobretudo, em três pontos do Jardim Boa Esperança e no Pae Cará, bairros que abrigam terminais retroportuários e indústrias, e por isso têm intenso trânsito de veículos pesados.
É no Pae Cará que está a Rua Idalino Pinez, também conhecida como Rua do Adubo, um desses três pontos. Os outros são a Avenida Santos Dumont e Rodovia Cônego Domenico Rangoni, que cortam o Distrito. Diariamente, as vias possibilitam o trânsito de mais de dois mil caminhões.
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Comparação
O Atlas da Poluição Ambiental compara os indicadores de áreas portuárias com o da Área de Proteção Ambiental Serra do Guararu, um paraíso ecológico de Guarujá, escolhida como ponto controle.
Bromélias
O projeto foi desenvolvido com o uso de bromélias, colocadas estrategicamente em árvores para serem utilizadas como bioindicador, sendo renovadas mensalmente e encaminhadas para análises químicas que identifiquem alterações da planta.
Considerando as quatro estações do ano, os estudiosos também identificaram que, no verão, as bromélias da Rua do Adubo absorveram 1.148 partes por bilhão (ppb) de ERTs, o que representa 32 vezes mais que as amostras coletadas na APA Serra do Guararu. O maior pico acontece no inverno, quando o índice quase quintuplica, se comparado à época mais quente do ano, levando em conta a baixa incidência de chuvas e, consequentemente, diluição dos poluentes.
Estudo direciona Município para investimentos em soluções sustentáveis
De acordo com o secretário de Meio Ambiente de Guarujá, Ricardo de Sousa, uma das principais soluções para mudar o cenário é investir em arborização urbana. “De 2019 para cá, plantamos mais de 1,4 mil árvores em Vicente de Carvalho. A Rua do Adubo foi a principal privilegiada, por concentrar o maior fluxo de veículos pesados”, reforçou.
Além da análise periódica das bromélias, também levantou-se o número de internações por doenças respiratórias no Sistema Único de Saúde (SUS). Denominado estudo ecológico, o método possibilitou o mapeamento de casos por região, para impulsionar uma segunda fase do Atlas Poluição, que avalie a função respiratória dos munícipes.
Diálogo com a comunidade portuária
Desde os resultados parciais do Atlas da Poluição, a Prefeitura vem realizando diversas tratativas para aprimorar a qualidade do ar. A primeira delas se deu a partir de novos investimentos em arborização urbana e, consequentemente, ampliação do diálogo junto à Autoridade Portuária de Santos (APS).
O prefeito de Guarujá, Válter Suman, que é médico, garante que o Município continuará trabalhando em sinergia com os setores públicos e privados. “Essa é uma responsabilidade de todos. Nesse caso, em especial, estamos enfrentando resultados de um problema antigo com escuta ativa e discussão de metas para transformar a atual realidade”, destacou.
Para o superintendente de Meio Ambiente e Segurança do Trabalho da APS, Sidnei Aranha, a lição de casa começou a ser feita. “Já plantamos mais de mil árvores à margem esquerda do Porto e estamos traçando ações efetivas para diminuir os impactos das nossas atividades. Inclusive, esse estudo está sendo fundamental para a segunda fase da Avenida Perimetral de Guarujá, que garantirá fluidez no tráfego local e melhor qualidade de vida à população”, comemorou.
Parceria
O Atlas da Poluição faz parte de um Termo de Cooperação firmado entre a Prefeitura de Guarujá e a Universidade Nove de Julho (Uninove), além de ter sido subsidiada pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). O projeto também envolveu acadêmicos de outras instituições, com o objetivo de impulsionar a criação de políticas públicas em saúde e meio ambiente.